Inovação e reflexão no ensino

O mundo tem mudado de forma vertiginosa, nas suas várias dimensões e setores. A escola não deve, na minha perspetiva, ser uma ilha no meio dessa evolução. Contudo, em muitos lugares, continua a existir uma visão redutora e estagnada no tempo, uma ilha de imobilismo no meio de um oceano de progresso, numa história onde os alunos continuam a ser vistos como personagens secundárias, passivos e submissos no seu processo de aprendizagem. Felizmente, existem, hoje, diversos projetos desenvolvidos por várias instituições e estabelecimentos de ensino, que tentam fazer a mudança acontecer. O Colégio de Alfragide é uma dessas instituições.

Já há vários anos que nos foi dada a autonomia e a liberdade pedagógica para tentarmos refletir e inovar nas estratégias de trabalho com alunos, mas também na forma como avaliamos e pensamos todo o processo de ensino-aprendizagem, no modo como construímos, em equipa, um projeto diversificado, significativo, mas com pontos comuns, sempre em construção.

 

Ao longo dos anos como professor, fui trabalhando com diversos grupos, com contextos diferentes e interesses variados. Para além do sucesso na aprendizagem de conteúdos e de metodologias de trabalho, sempre me norteou o desenvolvimento de dinâmicas que proporcionassem uma evolução integral e transversal do aluno, alicerçando o crescimento das suas inteligências múltiplas, respeitando a individualidade, alavancando o desenvolvimento, em vez de o limitar. O crescimento interior, social e atitudinal de cada um dos nossos alunos numa perspetiva de médio e longo prazo. O ser pessoa, com um perfil criativo e curioso, com vontade de descobrir e conhecer, sensível e empático, com destreza e desenvoltura para que, autonomamente, consiga ser construtor, gradual, do seu próprio conhecimento. Os conteúdos continuam a ser importantes, mas o foco não deve ser unicamente o currículo, mas sim, o aluno e as competências que o estruturarão para ser capaz de evoluir como uma pessoa completa, flexível e colaborativa, responsável e consciente, solidária e sensível ao outro, com sentido crítico e criatividade, adaptando-se aos contextos e situações, com a resiliência que permita suplantar obstáculos e dificuldades, refletindo sobre o que sabe, o que não sabe, o que precisa de trabalhar mais.

Deste modo, desenvolvemos diversas dinâmicas de trabalho e estratégias que permitiram transformar as aulas normais em momentos especiais e significativos de aprendizagem, sobretudo através da aprendizagem baseada em trabalho de projeto, através da colaboração entre os vários elementos e através de um processo de avaliação permanente. Essa avaliação é um elemento-chave, bem diferente do conceito de avaliação que consistia num processo de fim de linha, como a classificação de um trabalho. Em vez disso, é algo que está presente em todos os momentos, existindo na planificação e na preparação, no diagnóstico, na monitorização e no feedback, formando e construindo caminhos, de forma sistemática, integrando de forma contínua, fornecendo pistas, ajudas e apoios que auxiliem os alunos na sua aprendizagem, e os professores a conseguirem, em tempo real, momento a momento, refletir, adequar estratégias e métodos, obtendo de todo o processo, dados e impactos reais. Esta forma de trabalhar é orientadora e reguladora, mostrando-nos a importância do quotidiano na aprendizagem, da valorização das pequenas conquistas e da desmistificação do erro: o erro faz parte da aprendizagem, é um motor de crescimento e de consciencialização para todos.

Resumindo, talvez, todas estas ideias, penso ser fundamental que a escola entenda que o seu papel não é construir máquinas repetitivas de informações memorizadas ou confluir o pensamento para um fluxo único, limitado e sem capacidade crítica, mas sim, formar cidadãos, dotados de um espírito criativo e crítico, preservando a sua individualidade enquanto membros de um grupo, acompanhando o desenvolvimento cultural, social e humano. É este o espírito com que, no Colégio de Alfragide, trabalhamos em cada dia.

 

Pedro Barão de Campos.